No âmbito medicina e nutrição do esporte somos bombardeados diariamente com novas substâncias milagrosas que prometem serem efetivas para melhora da performance de atletas. Algumas substâncias de fato possuem um mecanismo fisiológico capaz de aumentar o desempenho, como é o caso da beta alanina, bicarbonato de sódio e cafeína. Porém, antes devemos lembrar que estes suplementos não são para todos os indivíduos e nem para todas as modalidades esportivas (Leia o artigo – Posicionamento do ISSN sobre suplementação esportiva). Cada um possui sua particularidade. No entanto, será que só suplementos alimentares são recursos ergogênicos ou temos outros fenômenos não alimentares capazes de melhorar nossa performance? Existem recursos ergogênicos não alimentares?
Música
Para muitas pessoas, o fone de ouvido é tão importante quanto o tênis para ir à academia ou fazer exercícios ao ar livre. Dentre os recursos ergogênicos não alimentares, a música dispõem de embasamento pelo fato de que músicas selecionadas pelos praticantes podem trazer um sentimento de prazer durante a prática. Isto não só melhora a motivação deles, mas também a aderência e participação dos indivíduos. Portanto, se você é um profissional de educação física, recomendo seu aluno a ouvir música durante os treinos. Não existe qualquer evidência científica relacionada com distração ou queda da performance!
Respiração
Vamos compreender como a respiração pode funcionar como um dos recursos ergogênicos não alimentares. No que se refere a fisiologia do exercício, deve-se entender o seguinte processo: quando temos uma demanda de energia, nosso corpo quebra glicogênio e oxida alguns substratos para adquirir “combustível”. No entanto, de maneira simplificada, quanto mais fazemos uma reação chamada de glicólise, mais nós produzimos íons de H+, e estes são os responsáveis pela acidose muscular e queda de desempenho. Nosso corpo consegue expulsar esses H+ de dentro da célula para o sangue a partir de transportadores, mas se conseguirmos elevar ligeiramente o pH do sangue, esse transporte é ainda maior, o que reduz a sensação de acidose! É exatamente esta a função da suplementação de bicarbonato de sódio: elevar o pH sanguíneo para auxiliar o transporte de H+ para fora da célula.
Mas o que tudo isso tem a ver com respiração? Alguns estudos demonstraram que a hiperventilação, ou seja, a rápida respiração em um determinado período de tempo, poderia promover uma alcalose em valores fisiológicos. A partir deste conceito, pode melhorar a performance dos indivíduos, devido a essa diferença de gradiente que pode facilitar a redução da acidose. Mais estudos são necessários para diminuição de risco, delimitação de quais são os protocolos e quais esportes isto seria interessante.
Ambiente
Diversas pessoas se inscrevem e começam a fazer academia. Contudo, logo desanimam com a justificativa de ser algo sem graça, ou que não suportam a prática da corrida em esteira. Com isso, voltam ao sedentarismo de antes, sem ao menos explorar as diversas possibilidades que a corrida pode proporcionar. Estudos comprovam que para indivíduos fisicamente ativos, mas não atletas, a percepção de esforço de correr na esteira é muito maior do que correr ao ar livre, sobretudo em parques arborizados ou até mesmo em ruas.
Portanto, outro recurso ergogênico não alimentar é o ambiente em que a prática esportiva está ocorrendo. Tal fator pode fazer com que você, ou um aluno, aumente a aderência aos treinos e até mesmo possibilidade de crescimento no esporte. Vale destacar que a corrida de rua precisa de cuidados maiores e que muitas vezes não são valorizados na corrida ‘indoor’, como postura, risco de quedas e a sobrecarga das articulações.
E você acreditava que só suplementos melhoram nossa performance? Agora tente correr um lugar novo, ouvindo sua música favorita e prestando atenção em sua respiração!
Para saber mais sobre o assunto:
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