Historicamente, a maioria das culturas humanas sempre dependeu para sua alimentação dos recursos vegetais. Dados mostram que nossos ancestrais conheciam e utilizavam em média, 5.000 tipos de vegetais, e que hoje, apenas utiliza-se cerca de 130 espécies na alimentação, sendo assim, uma perda significativa.
Dessas espécies utilizadas, atualmente, apenas 30 vegetais são responsáveis por 95% das exigências de alimentação da população. Quando olhamos para o Brasil, vemos uma enorme variedade de verduras e frutas nativas que são subaproveitadas pela grande maioria da população, e muitas vezes, por pouco conhecimento sobre esses produtos. Afinal, PANC: você sabe o que são?
PANC
Acerca do tema, a sigla PANC significa Plantas Alimentícias não Convencionais, ou em outras palavras, “plantas que poderíamos consumir, mas que não são consumidas. Esse termo foi criado em 2008, pelo biólogo Valdely Kinupp, com o objetivo de designar todas as plantas que possuem uma ou mais partes comestíveis, sendo elas espontâneas ou cultivadas, nativas ou exóticas, e que não estão incluídas no cardápio cotidiano das pessoas.
Para chamar uma planta de PANC, no entanto, é importante analisar o local em que essa espécie é encontrada. Em algumas regiões, uma determinada planta pode ser consumida por uma grande parcela da população e, por isso, não ser considerada uma PANC.
Entretanto, em outras áreas, ela assume essa denominação por seu uso ser ignorado na culinária daquela região. Como por exemplo, o Jambu, que é uma planta amazônica e convencional para os residentes de Belém ou Manaus, mas para o morador de São Paulo, será uma planta não convencional ao consumo. Um outro exemplo é a ora-pro-nobis, que é bastante famosa na região mineira de Sabará. Por lá, não é considerada uma PANC, mas talvez outras regiões do País, como o Nordeste, essa seja.
O Desperdício
Mais detalhadamente, mais de 50% das calorias que consumimos no mundo provêm de no máximo quatro espécies de plantas. Também, 90% dos alimentos consumidos vêm de somente 20 tipos de plantas. Por outro lado, temos uma oferta potencial de alimentos de pelo menos 30 mil plantas diferentes, onde no Brasil, estima-se que pelo menos 10% da flora (uma média de 4 a 5 mil espécies) sejam de plantas alimentícias. A FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), órgão da ONU, envolvido com a questão da alimentação mundial, estima que 75% das variedades convencionais de plantas alimentícias já foram perdidas.
Um dos pontos interessantes ao se estudar o tema, é observar a desvalorização da biodiversidade vegetal do Brasil e do mundo, onde as PANC poderiam complementar de forma eficiente a alimentação, por muitas vezes, serem ricas em propriedades nutritivas, além de serem interessantes do ponto de vista produtivo. Isso decorre do fato de apresentarem necessidades mais simples de cultivo, podendo ocupar espaços onde há pouca insolação, cujo solo não seja tão fértil e úmido, ou seco demais para as culturas convencionais.
Curiosidades
Nem toda PANC é um “mato”, pois nem todas nascem de forma espontânea e em qualquer espaço. Muitas são vegetais cultivados em pequena ou larga escala e dependem das características ambientais;
Diversas PANC como a serralha, a beldroega, o picão e o caruru, são de fato espontâneas e nascem sem que ninguém precise plantá-las;
Nem todo mato é uma PANC. Muitas plantas que nascem sozinhas em praças, calçadas, jardins e hortas, não são comestíveis.
Um Último Recado
Por fim, sobre ser ou não comestível, é importante ter atenção. Apesar de poucas plantas apresentarem alta toxicidade, existem plantas tóxicas. Por isso, no dia a dia, é aconselhado não se comer uma planta sem a certeza de que é própria para o consumo. O ideal é sempre buscar informações cautelosas com o os especialistas do assunto, além de cautela no preparo, pois algumas PANC precisam ser fervidas ou cozidas para uma correta e segura preparação.
Referências:
CASTRO, C. M. D; DEVIDE, A. C. P; Cultivo e Propriedades de Plantas Alimentícias não Convencionais: Resgate de sabores e saberes. Pindamonhangaba: Polo Regional Vale do Paraíba, 2016. 15p.
KELEN, M. E. B. et al. Plantas alimentícias não convencionais: hortaliças espontâneas e nativas. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2015. 45p.
KINUPP, Valdely Ferreira; LORENZI, ; Harri; Plantas alimentícias não convencionais (PANC) no Brasil: Guia de identificação, aspectos nutricionais e receitas ilustradas. 1. ed. Nova Odessa: Instituto Plantarum de Estudos da Flora Ltda, 2014. 768p.
MATO NO PRATO, BRASIL BIOMA; 20 plantas inusitadas que você pode comer e talvez não saiba. São Paulo: Mato no Prato, 2019. 55p.
MATO NO PRATO; Cultivo e manejo de PANC: Plante e colha seu próprio alimento. São Paulo: Mato no Prato, 2019. 23p.
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