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O papel do nutricionista nos 1000 primeiros dias do bebê



Você, nutricionista, sabia que os 1000 primeiros dias de um bebê são cruciais para o desenvolvimento ao longo da vida?


Esse fato justifica-se pois o respectivo período compreende a gravidez (270 dias), o primeiro ano (365 dias) e o segundo ano (365 dias) da criança. Esse momento está diretamente associado à formação e ao desenvolvimento de sua função neurológica, cognitiva, motora e imunológica, além de representar um período de adoção de hábitos e atitudes que influenciarão toda a vida do indivíduo. Portanto, o acompanhamento nutricional adequado nessa fase da vida está diretamente associado à saúde na vida adulta, visto que uma má nutrição na primeira infância está associada a um pior desenvolvimento, ao atraso no crescimento e a maior prevalência de doenças crônicas na fase adulta.

Epigenética e Nutrição


O termo epigenética significa “além da genética”, ou seja, existem diversos fatores que contribuem para o desenvolvimento e crescimento dos indivíduos além da herança biológica que os pais passam para seus filhos. A dieta materna durante a gestação e a alimentação complementar da criança, são alguns desses mecanismos epigenéticos.


A epigenética estuda o que acontece com os genes ao longo da vida. Isso significa que nossos marcadores genéticos mudam ao longo do tempo de acordo com os hábitos que temos. Contudo, saiba que isso não tem relação com uma “alteração do DNA”, porque o epigenoma não muda o DNA, apenas "decide" quando e como os genes são expressados nas diferentes células do corpo.


Dessa forma, é fácil compreender que informações epigenéticas não são permanentes. Apesar de serem hereditárias, elas podem mudar durante a vida decorrente do ambiente onde o indivíduo está inserido, comida, estresse, fumo…

Ademais, o período de desenvolvimento infantil é particularmente mais sensível a essas alterações, por isso, deve-se orientar corretamente o que deve ser feito durante os 1000 primeiros dias do bebê.


Gestação


A dieta materna durante a gestação é extremamente importante para o desenvolvimento adequado da criança. Como foi falado anteriormente, alterações epigenéticas induzidas por exposições adversas podem ser prejudiciais. Dessa forma, orienta-se que não haja no período gestacional, o consumo de qualquer droga lícita e ilícita (principalmente álcool e tabaco), e edulcorantes em geral. Nessa fase, quando ocorre o neurodesenvolvimento, é necessário se atentar para a quantidade e qualidade dos macronutrientes (carboidratos, proteínas e lipídios) consumidos, pois a sua deficiência está associada a crianças com menor QI e menor sucesso escolar.


Desse modo, orientar práticas alimentares saudáveis para a gestante e a suplementação de micronutrientes adequada, são práticas nutricionais essenciais a fim de assegurar a fisiologia correta e o bom desenvolvimento do feto através do fornecimento de nutrientes adequados, suprindo todas as necessidades nutricionais tanto da mãe, quanto do bebê. O objetivo nutricional para essa fase, é garantir a normalidade gestacional, evitar má formação no bebê e as complicações no parto, além de assegurar que o mesmo nasça com o peso adequado.


Aleitamento materno


O aleitamento materno é a primeira prática alimentar dos indivíduos e está diretamente relacionada com a sua saúde ao longo da vida. É recomendado que essa prática seja exclusiva até os seis meses de idade do bebê. Um grande número de compostos bioativos do leite materno pode induzir alterações na metilação do DNA e é possível que, sem a exposição a esses fatores, bebês alimentados com fórmulas infantis possam apresentar diferenças na regulação de processos epigenéticos (transcrição de genes e/ou na síntese proteica), contribuindo para um pior perfil de saúde a longo prazo.


Além disso, o leite materno pode influenciar a composição da microbiota na infância, já que os seus compostos tornam o meio intestinal mais anaeróbio, permitindo o crescimento de bactérias que a compõem. Além disso, tem papel imunológico, exercendo papel mediador na relação entre alimentação complementar e risco de desenvolver doenças crônicas na adolescência e na vida adulta. Vale ressaltar que a alimentação da mãe também deve estar adequada no período de amamentação, pois todo o consumo é transmitido ao bebê através do leite.


Introdução Alimentar e Alimentação Complementar


Depois dos 6 meses de leite materno exclusivo, a fase de apresentar alimentos consumidos pela família para a criança é chamada de alimentação complementar. É um processo que deve durar até os 24 meses. Logo, orientações nutricionais para uma adequada alimentação complementar são consideradas uma das ações essenciais em nutrição para melhorar a saúde e o desenvolvimento infantil. Este é um momento delicado no qual a introdução de alimentos deve ser feita no momento certo e em quantidade e qualidade adequadas a cada fase do crescimento e desenvolvimento infantil.


Durante a alimentação complementar, são adquiridos e formados os primeiros hábitos alimentares, e a alimentação saudável tem o papel de promover hábitos saudáveis e proteger a criança de deficiências de micronutrientes ou do excesso de macronutrientes, no qual pode levar ao desenvolvimento de doenças crônicas na idade adulta.


Considerações finais


Para os 1000 primeiros dias do desenvolvimento de um bebê, é necessário dar devida atenção às práticas e condutas nutricionais aplicadas neste momento, tanto pela mãe, quanto pelo bebê. Compreender que a dieta materna durante a gestação e a alimentação complementar da criança são mecanismos epigenéticos responsáveis pelo desenvolvimento pleno, é um conhecimento de grande importância para prestar a devida atenção nutricional a esse público.



Para um estudo mais aprofundado sobre o tema, seguem abaixo algumas sugestões:



Artigo: Verduci, E et al. “Nutrition in the first 1000 days and respiratory health: A descriptive review of the last five years' literature.” Allergologia et immunopathologia vol. 45, n.4 , p. 405-413, 2017. doi:10.1016/j.aller.2017.01.003


Schwarzenberg, Sarah Jane et al. “Advocacy for Improving Nutrition in the First 1000 Days to Support Childhood Development and Adult Health.” Pediatrics vol. 141, n.2 , 2018. doi:10.1542/peds.2017-3716

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