Conhecendo a flexibilidade metabólica
Apesar da ideia da flexibilidade metabólica ser deixada de lado por muitos profissionais, esse conceito pode ser bastante importante em algumas condutas clínicas. Nesse sentido, esse termo pode ser descrito como a capacidade de um organismo de responder ou se adaptar de acordo com mudanças na demanda energética.
Por outro lado, há também a inflexibilidade metabólica, onde o organismo não consegue se adaptar a diferentes substratos. Nesse cenário, podemos pensar naqueles indivíduos que não podem ficar muito tempo sem se alimentar por apresentarem estresse, ansiedade, desfoque, entre outros sintomas, um resultado da ineficiência da utilização de lipídios na ausência do consumo de carboidratos, no qual encontramos a influência da mitocôndria na flexibilidade metabólica.
Onde a mitocôndria entra nessa história?
Quando falamos sobre a produção de energia, devemos lembrar que a mitocôndria é a principal envolvida nesse processo, isso através da oxidação de moléculas como carboidratos e lipídios, resultando na geração de ATP. Ademais, essa organela também é responsável pela produção de espécies reativas de oxigênio (EROs) que, em baixos níveis, atuam em vias de sinalização celular.
Nesse contexto, encontramos o termo biogênese mitocondrial que diz respeito ao aumento do volume, da quantidade, do tamanho e da funcionalidade da organela, favorecendo sua eficiência e assim a capacidade de utilização de diferentes substratos, ou seja, a flexibilidade metabólica. Assim, nota-se que a ativação da proteína PGC-1α é a principal via para a estimulação da biogênese. Por outro lado, a ineficiência desse processo pode levar a disfunção mitocondrial, resultando no aumento da produção de EROs e assim no estabelecimento do estresse oxidativo. Entretanto, como será que podemos otimizar a biogênese mitocondrial?
A alimentação e a saúde mitocondrial
Dentre os compostos dietéticos que encontramos na alimentação, as vitaminas e minerais são os principais componentes essenciais na bioenergética da mitocôndria. Assim, podemos citar todas as vitaminas do complexo B, apresentando principalmente funções coenzimáticas, contribuindo para o andamento da produção de energia. Já a vitamina C, além de ser um potente antioxidante levando a proteção da organela e da célula, esse micronutriente pode estimular a PGC-1α. Falando agora de alguns minerais, podemos destacar o zinco e selênio, apresentando também propriedades antioxidantes, além desse último também demonstrar o potencial de estimular a PGC-1α.
O papel do exercício na biogênese mitocondrial
Para mais, o exercício também é responsável por promover a biogênese, contudo, é necessário que exista uma intensidade, duração e frequência suficientes. Assim, observa-se que atividades com elevado consumo de oxigênio apresentam estímulo mais elevado à biogênese, graças ao recrutamento de uma maior variedade de fibras musculares. Logo, recomenda-se a prática de treinos intervalados de alta intensidade, o tão conhecido “HIIT”. Nesse contexto, diversas vias relacionadas ao exercício irão resultar na estimulação da PGC-1α, como o aumento das concentrações de cálcio intracelulares, ativação da proteína p38 MAPK, também da AMPK, além de diversas outras vias.
Portanto, agora que compreendemos a influência da mitocôndria na flexibilidade metabólica, nós profissionais devemos adotar estratégias que otimizem a biogênese, tanto através da nutrição quanto pela prática de exercício físico. Por outro lado, precisamos lembrar que a disfunção dessa organela acompanhada pela inflexibilidade metabólica está associada à síndrome metabólica, favorecendo a incidência de doenças cardiovasculares, obesidade e diabetes tipo 2.
Para um estudo mais aprofundado sobre o tema, seguem abaixo algumas sugestões:
Artigos:
GOODPASTER, Bret H.; SPARKS, Lauren M.. Metabolic Flexibility in Health and Disease. Cell Metabolism, [S.L.], v. 25, n. 5, p. 1027-1036, maio 2017. Elsevier BV. http://dx.doi.org/10.1016/j.cmet.2017.04.015.
GARCÍA-GARCÍA, Francesc Josep; MONISTROL-MULA, Anna; CARDELLACH, Francesc; GARRABOU, Glòria. Nutrition, Bioenergetics, and Metabolic Syndrome. Nutrients, [S.L.], v. 12, n. 9, p. 2785, 11 set. 2020. MDPI AG. http://dx.doi.org/10.3390/nu12092785.
POPOV, Lucia‐Doina. Mitochondrial biogenesis: an update. Journal Of Cellular And Molecular Medicine, [S.L.], v. 24, n. 9, p. 4892-4899, 12 abr. 2020. Wiley. http://dx.doi.org/10.1111/jcmm.15194.
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