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Science Play

Porque o seu paciente sente tanta fome?


Quando falamos de estratégias para o emagrecimento, um dos principais fatores a serem observados é a capacidade de adesão a dieta estabelecida. Desse modo, o sucesso a longo prazo de um plano alimentar e da ingestão calórica determinada depende de diversos fatores. Os mesmos vão desde a composição e a distribuição destes alimentos ao longo do dia, como também fatores relacionados ao comportamento alimentar e a fome.


Uma das principais queixas ouvidas por indivíduos que não conseguem ter adesão a um plano alimentar é justamente o desejo pelo consumo de alimentos mais palatáveis, que geralmente são mais densos em calorias. Desta forma, é importante ter em mente estratégias que possam modular o controle da fome do seu paciente. Mas antes, é importante compreender quais os fatores e mecanismos fisiológicos que podem influenciar o aumento da fome.



O Ambiente Hormonal


Antes de falar diretamente sobre o comportamento alimentar e a fome, vejamos que por trás do déficit energético, tem-se o aumento de vias catabólicas de oxidação de gordura, impactando diretamente na redução da leptina. Esse hormônio tem forte atuação em uma região no cérebro conhecida como hipotálamo. Sua redução favorece a ativação de neurônios com função orexígena, ou seja, que estimula o comportamento de ingestão de alimentos. Mas é importante ressaltar também, que a leptina representa uma via de regulação a longo prazo, que reflete por tanto, a quantidade de energia armazenada no tecido adiposo. 


A curto prazo, como horas ou dias, a redução no volume de alimentos ingeridos causa menor distensão gástrica e maior liberação de grelina. Este hormônio também tem forte atuação no aumento da percepção de fome, por atuar justamente nos neurônios de função orexígena descritos acima. No que se refere aos reguladores de saciedade, tem-se redução dos hormônios peptídicos gastrintestinais colescistocinina (CCK), peptídeo semelhante a glucagon 1 (GLP-1) e peptídeo YY (PYY). Tais peptídeos corroboram justamente para a potente resposta de aumento da fome.


Componente hedônico


Como foi mencionado, as variações calóricas impactam na chamada fome fisiológica, ou seja, existe a necessidade de se alimentar para suprir a demanda energética. Por outro lado, o componente hedônico (ou fome hedônica) se caracteriza como um comportamento pela busca de alimentos específicos. Tais alimentos são geralmente os altamente palatáveis, com forte apelo emocional e provocando sensação de prazer, mediados pelo sistema de recompensa cerebral. E Este é um fator chave no comportamento alimentar através da regulação, por exemplo, da impulsividade em comer determinados alimentos e na sensação de bem estar que estes provocam. Neste ponto, vale destaque para a atuação dos endocanabinoides, que potencializam a fome e a resposta sensorial de alimentos doces ou gordurosos, ocasionando na motivação de consumo adicional.


Entre os neurotransmissores envolvidos, destaca-se a atuação da dopamina e da serotonina na modulação cognitiva e emocional . A primeira, envolvida principalmente com o consumo hedônico (prazer), ou seja, a sensação e a motivação de desejo por algum alimento. Já a segunda, tem relação direta com o humor, tendo picos de liberação elevados no hipotálamo após ver o alimento e ingeri-lo.


A influência do sono


Já é bem descrito que a privação de sono provoca diversas alterações fisiológicas, entre elas, a regulação do comportamento alimentar. Entre os mecanismos, é bem evidenciado que do ponto de vista hormonal, a restrição de 2 horas de sono em um período consecutivo de dias já é o suficiente para reduzir as concentrações de leptina e aumentar as de grelina. Também, as vias hedônicas são potencializadas, aumentando o desejo pelo consumo de alimentos mais palatáveis, combinado também com o maior tempo de vigília que favorece oportunidades adicionais para o consumo. 


Comportamento alimentar e a fome: estratégias a serem adotadas


Uma dieta adequada tem forte atuação na modulação do comportamento alimentar e a diminuição da fome, tanto do ponto de vista hormonal, quanto de atuação no sistema de recompensa e de reações impulsivas para determinados alimentos. Nesse sentido, vale ressaltar o controle da fome e saciedade exercido pelo consumo de fibras dietéticas. As fibras tem papel de destaque devido ao aumento no tempo de mastigação, aumento do conteúdo gástrico e atraso no seu esvaziamento. Outro ponto interessante é o consumo de proteínas, que oferecem maior tempo de digestão e maior impacto na secreção dos peptídeos gastrintestinais PYY, GLP-1 e CCK. 


Como foi dito anteriormente, desregulações no ciclo sono-vigília, implicam em maior apetite subjetivo. Neste sentido, a ingestão de proteínas também é uma estratégia válida para a qualidade do sono. Sendo assim, é interessante a inclusão de alimentos fontes de triptofano no período noturno, visando o favorecimento da síntese de melatonina. 


Por fim, após todos esses tópicos abordados, é importante comentar que, quando se fala de comportamento alimentar, todos os fatores devem ser levados em conta, sejam eles metabólicos, psicológicos ou sociais. Além disso, a  individualidade de cada paciente deve ser sempre priorizada para o sucesso das estratégias nutricionais adotadas.


Para um estudo mais aprofundado sobre o tema, seguem abaixo algumas sugestões:


E-book Science Play – Sono e Composição Corporal

Livro: Princípios de Bioquímica de Lehninger – Michael M. Cox e David L. Nelson

Livro: Neurociências: Desvendando o Sistema Nervoso – Mark F. Bear, Barry W. Connors e Michael A. Paradiso

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