Há muitos anos, já é bem estabelecido na literatura os benefícios de uma alimentação nutricionalmente balanceada na prevenção e tratamento de doenças como hipertensão, gastrite, hipotireoidismo, entre muitas outras. Além do contexto científico, o público leigo também está cercado de informações, mesmo que essas não sejam sempre corretas, a respeito da nutrição como ferramenta a ser utilizada na melhora dos padrões de saúde. Contudo, o mesmo não acontece com as desordens mentais.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 300 milhões de pessoas, de todas as idades, sofrem de depressão em todo o mundo. Este dado representa um aumento de quase 18% na incidência de casos entre 2005 e 2015. A depressão é uma condição caracterizada por um quadro de tristeza permanente, associado a perda de interesse em atividades prazerosas e incapacidade de realizar tarefas cotidianas.
Sistema Nervoso e Nutrientes
O nosso sistema nervoso está em constante funcionamento, até mesmo quando estamos dormindo. Isso significa que para realizar todas as suas atividades, existe uma alta demanda energética. Os substratos são provenientes da alimentação, onde além da importância dos macronutrientes, especialmente os carboidratos, as vitaminas, os minerais e os compostos bioativos, protegem o cérebro do estresse oxidativo que apresenta potencial para causar danos às células neurais. Ou seja, aquilo que ingerimos pode alterar o funcionamento do sistema nervoso, afetando também o comportamento.
Neste sentido, existem evidências demonstrando que uma dieta pobre em nutrientes está atrelada ao surgimento de desordens mentais, como a depressão e demência. Por outro lado, outros estudos mostram que uma dieta saudável está inversamente relacionada a um menor risco de desenvolvimento de depressão e declínio cognitivo. Dito isso, como o nutricionista pode atuar frente a essa realidade?
Comunicação Efetiva
As palavras têm o poder de nos fortalecer ou devastar, se a comunicação não levar em consideração fatores como percepções, valores e culturas intrínsecas do indivíduo. Assim, ela potencialmente leva a resultados negativos. Parte essencial das intervenções nutricionais, envolve como a mensagem é entregue ao paciente, existindo então correlações entre uma comunicação efetiva e a melhora dos resultados alcançados. Portanto, antes mesmo de avaliar as necessidades nutricionais do seu paciente, pensar na forma de abordagem e comunicação é fundamental.
Neste tema, o nutricionista e os demais profissionais da área da saúde, podem se beneficiar da aplicação das seguintes dicas para uma comunicação efetiva:
Empregar a chamada comunicação não violenta, com abordagem respeitosa, inclusiva e centrada no indivíduo, respeitando as suas particularidades.
Utilizar linguagem baseada em pontos fortes do paciente, enfatizando que mesmo é capaz de realizar as mudanças sugeridas, incentivando-o positivamente.
Aplicar linguagem que coloque o paciente em posição central, não sua doença ou demais condições apresentadas por ele.
Evitar o uso de linguagem que imponha regras, preferindo utilizar frases que respeitem a liberdade de escolha do paciente.
Estratégias Nutricionais
O eixo intestino-cérebro vem sendo muito relacionado a saúde mental, visto que a maior parte da serotonina é produzida no intestino. A serotonina, junto com dopamina, acetilcolina e noradrenalina são neurotransmissores responsáveis pela transmissão de impulsos nervosos que geram a sensação de felicidade e bem-estar. O triptofano é precursor da serotonina, por isso, para que haja síntese deste neurotransmissor, é importante incluir alimentos fonte deste aminoácido na dieta dos pacientes depressivos, como: peixe, leite, lentilha, chocolate com alto teor de cacau e semente de abóbora.
Além disso, alguns estudos conduzidos em modelo animal, sugeriram que dietas com alto teor de gorduras e açúcares refinados, apresentam potencial impacto no hipocampo, reduzindo a proliferação neuronal, aumentando a neurodegeneração e prejudicando o processo de aprendizado e memória. Casos como este, podem se beneficiar do consumo de ômega-3, flavonóides, resveratrol e polifenóis, sendo esses os componentes que se mostraram eficientes para estimular a neurogênese. Além disso, é interessante lembrar que, para confirmar estes achados, são necessários estudos sobre o tema que sejam realizados em humanos.
De maneira geral, é importante ofertar uma diversidade de vitaminas, minerais, aminoácidos e ácidos graxos essenciais, pois estes nutrientes exercem efeitos anti-inflamatórios, antioxidantes e neuroprotetores. Ao passo que, a deficiência de vitamina B12 e folato pode estar relacionada à deterioração cognitiva. Esse padrão alimentar muito se assemelha a dieta mediterrânea, sendo este o modelo muito apresentado nos trabalhos sobre o tema.
Abordagens Alternativas
A nutrição comportamental é um ramo em crescimento exponencial no contexto atual. Existem diversas estratégias a serem consideradas no tratamento de pacientes com distúrbios psicológicos, estes são alguns exemplos:
Mindful Eating: de maneira resumida, é a prática de se comer com atenção plena, fazendo com que o indivíduo traga a sua atenção para o momento presente, prestando atenção em aspectos como sabor, textura, aromas e cores dos alimentos. Também, a prática da meditação pode induzir a atenção plena e reduzir sintomas físicos, mentais e emocionais.
Padrão Alimentar Qualitativo: envolve trocar a convencional prescrição de um plano alimentar por um plano de ação que envolve metas, até que, efetivamente, seja possível evoluir para uma prescrição quantitativa. Essa estratégia combina conhecimentos em nutrição com habilidades terapêuticas voltadas para a alimentação.
Modelo Transteórico: permite entender em qual fase da mudança de comportamento o paciente se encontra. O modelo transteórico é dividido em 5 estágios, são eles: pré-contemplação; contemplação; preparação; ação e manutenção.
Para um estudo mais aprofundado sobre o tema, segue algumas sugestões de leitura:
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Artigos:
Autores: Naia Lima e Pedro Perim
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