O corpo humano é orquestrado por um relógio central e outros relógios periféricos, estes regulam o que acontece no organismo em determinada hora do dia. Isto é o que chamamos de ciclo circadiano. De maneira medíocre dividimos o ciclo de 24 horas em duas partes, o momento em que estamos dormindo e aquele em que estamos acordados. Por suposto, existem repercussões metabólicas distintas durante estes períodos. Ademais, visto que a disponibilidade energética é diferente, isso impacta a secreção hormonal e digestão de alimentos, por exemplo. Assim, o texto a seguir visa apresentar a relação entre distúrbios do sono e o metabolismo.
Ciclo circadiano
O ciclo circadiano é oriundo do processo evolutivo e adaptativo dos seres humanos, portanto sua regulação tem o propósito de preparar o corpo para os desafios e oportunidades ao longo do dia, e o ideal seria que isso fosse seguido. No entanto, as atividades diárias humanas muitas vezes não permitem o descanso no intervalo das 18h às 6h. Essa desregulação é o que caracteriza a crono disrupção. É fato que as células, tecidos e sistemas tem a capacidade de adaptação diante de algum estímulo ou estresse, mas isso pode gerar efeitos negativos sobre o corpo.
O relógio central do corpo humano está localizado no hipotálamo, mais especificamente no núcleo supraquiasmático, enquanto os demais relógios periféricos estão em tecidos e outras regiões do cérebro. Quando a luz atinge os olhos, ou a ausência dela, um sinal é emitido via retina e chega ao SNC. A partir das 18h existe a elevação da pressão arterial, seguido do aumento da temperatura corporal e início da produção de melatonina. A noite segue com o sono profundo e menor motilidade intestinal, despertando às 6h com um pico de cortisol, início dos movimentos do trato gastrointestinal, supressão da síntese de melatonina e aumento da testosterona. A partir do meio dia temos maior coordenação, cognição e, provavelmente, desempenho esportivo. Todos esses acontecimentos são regulados pelos chamados clock genes.
Disrupção do ciclo e consequências
A disrupção do ciclo circadiano e o débito de sono pode afetar primeiramente o relógio central, desregulando a nossa busca por comida, o gasto energético e a sensibilidade à insulina. O clock intestinal é responsável pela expressão de transportadores de monossacarídeos na borda em escova (SGLT1 e GLUT 5) e por controlar os movimentos peristálticos do intestino. Já no pâncreas existe o clock que regula a secreção de glucagon, por células alfa pancreáticas, e de insulina, por células beta pancreáticas. Neste ponto já podemos citar o risco de obesidade por menor controle do consumo alimentar e o risco de diabetes pelo erro na manutenção da glicemia, ambos causados por crono disrupção (Leia o artigo – A relação entre o sono e a obesidade).
Os clock genes do músculo regulam a respiração mitocondrial, a força muscular e a sensibilidade à insulina dos miócitos. Bioquimicamente podemos pensar que a menor sensibilidade à insulina pode afetar a captação de glicose, atenuando a glicogênese, ou seja, a síntese de glicogênio, podendo deixar o indivíduo com menor disponibilidade energética para prática de exercício físico, afetando diretamente o rendimento.
Adequação do ciclo
Estudos passaram a estudar como resgatar a sincronia circadiana, encontrando efeitos positivos na atividade física durante o dia, consumir menos calorias durante a noite, melhorar a rotina de sono, tendo horários consistentes para dormir e acordar, e permanecer longe de objetos luminosos na hora do descanso. Essas adequações simples são capazes de evitar, e tratar, síndromes metabólicas, principalmente o diabetes mellitus tipo 2, e melhorar o rendimento cognitivo e esportivo.
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