A sigla RED vêm do inglês Relative Energy Deficiency, que em português é conhecida como Deficiência de Energia Relativa no Esporte (RED-S). Essa síndrome acomete atletas que gastam mais calorias durante o treino do que a quantidade de calorias consumidas. Considerando a importância de um aporte energético adequado para essa população, a ciência nos aponta quais são as consequências da baixa disponibilidade de energia e quais são as abordagens recomendadas para trabalhar em cenários como este.
Desfechos
Neste caso, os desfechos da Deficiência de Energia Relativa no Esporte são majoritariamente negativos e estão altamente presentes em dois grandes grupos: performance e saúde. Começando pela performance, a baixa densidade de energia causa depleção dos estoques de glicogênio, aumento do risco de lesões, diminuição da força muscular, irritabilidade, sintomas depressivos e outros fatores que culminam na piora do rendimento do atleta.
Em se tratando da saúde, há prejuízos no sistema imune, disrupções metabólicas e endócrinas, mudanças na saúde cardiovascular e gastrointestinal do atleta, entre outros. Ainda, existem dois efeitos deletérios muito conhecidos: trata-se da queda na densidade mineral óssea e da desregulação na função menstrual. Esses dois fatores combinados com a baixa densidade energética dão origem a tríade da mulher atleta. Por sinal, existem diversos estudos com bons desenhos metodológicos acerca desse tema, ou seja, é um tópico muito bem embasado pela ciência.
Mas, e os homens, sofrem da Deficiência de Energia Relativa no Esporte?
Como vimos anteriormente, outros fatores além dos presentes na tríade são afetados pela baixa disponibilidade de energia, sendo assim, este não é um problema que acomete somente as mulheres. É necessário ter o mesmo grau de atenção para investigar os sinais em atletas de ambos os gêneros. Também, a etnia é um fator importante a ser levado em consideração, pois pode interferir na resposta fisiológica.
Comportamento
Este é um ponto muito delicado, devendo ser avaliado com muita cautela pelo nutricionista. A Deficiência de Energia Relativa no Esporte pode ter consequências em alguns atletas mais associadas a distúrbios alimentares e/ou de imagem, nos quais podem levar o mesmo a ter uma relação negativa com a alimentação proposta pelo nutricionista. Consequentemente, ele acabará ingerindo menos calorias que o necessário, tornando-se um alvo em potencial da síndrome RED-S.
Geralmente, os atletas mais acometidos por esses distúrbios são aqueles que praticam modalidades esportivas que exercem certa pressão na apresentação de um físico magro, especialmente devido ao uso de figurinos justos ou que deixem o corpo muito à mostra, como acontece na ginástica artística, nado sincronizado e ballet. Podem também estar presente em esportes em que há separação por categoria de peso, são exemplos: corrida de cavalo e esportes de combate, ou ainda, em esportes de endurance, devido ao alto gasto calórico em sessões de treino. Assim, o trabalho em equipe multidisciplinar com psicólogo pode ser necessário em alguns casos.
Estratégias Nutricionais
Primeiramente, para definir uma boa estratégia nutricional o profissional deve conhecer bem o seu atleta, saber quais são os seus hábitos alimentares, quais são os requisitos do esporte, seu desempenho e saúde geral.
Quando falamos em síndrome de deficiência energética, é importante lembrar que a recomendação calórica é geralmente feita por kg de massa muscular. De acordo com Lane e colaboradores (2019) o risco do atleta sofrer dessa síndrome pode ser classificado de acordo com o aporte energético, onde quantidades menores que 30 kcal/kg de massa muscular representa um alto risco, entre 30 e 45 kcal/kg de massa muscular significa risco moderado e quantidades a partir de 45 kcal/kg de massa muscular não representa risco, e por esta razão, o nutricionista deve tentar ajustar o consumo energético do atleta nesta faixa.
Contudo, isso é muito difícil de ser alcançado na prática clínica, visto que os atletas tendem a subestimar o gasto energético do treino. Outro ponto que também podem ajudar é a diminuição do volume/intensidade do treinamento.
Considerações finais à Deficiência de Energia Relativa no Esporte
Outras estratégias eficazes são: manter uma dieta hiperproteica, aumentar a frequência alimentar ou o tamanho das porções, realizar periodização da dieta e utilizar alimentos com alta densidade nutricional, ou seja, aqueles que oferecem diversas vitaminas, minerais e compostos bioativos em abundância. Por fim, os processos deletérios podem sim ser recuperados, mas cada um deles possui diferentes períodos devido à gravidade intrínseca de cada fator. Assim sendo, a variabilidade da recuperação é de dias até anos. Os ajustes nutricionais corretos e conscientização do atleta são fundamentais para que haja a recuperação da saúde e performance do atleta.
Para um estudo mais aprofundado sobre o tema, seguem abaixo algumas sugestões:
Blog BF Eventos: Tríade da Mulher Atleta
The IOC relative energy deficiency in sport clinical assessment tool (RED-CAT)
Parallels with the Female Athlete Triad in Male Athletes
Recent advances in the characterization of skeletal muscle and whole-body protein responses to dietary protein and exercise during negative energy balance
Prevalence of Low Energy Availability in Competitively Trained Male Endurance Athletes
Comentarios