Esta talvez seja uma das temáticas mais estarrecedoras para grande parte dos estudantes e profissionais da área da saúde. Isto se deve à construção de um tabu referente à ciência, no entanto, desmitificando o que foi criado, acredite: o conhecimento é um direito e um dever de todos, e não exclusivo de cientistas. O Artigo científico e os modelos de pesquisa não são um bicho de sete cabeças.
Primeiramente, pensemos na funcionalidade do que chamamos de “literatura”: pesquisadores do mundo inteiro desenvolvem projetos com base em algum questionamento, como por exemplo “Será que a suplementação dessa substância aumenta o desempenho?”, e a partir daí cria-se uma metodologia para responder à questão. Estes cientistas muitas vezes trabalham com outras pessoas, até o momento em que chegam em um resultado e passam a escrever uma tese. Das teses saem os “papers”, ou artigos, que serão submetidos às revistas científicas, e podem ser aceitos ou recusados.
Mas vamos por partes para que você possa entender a importância de cada parte de um paper.
Introdução
Neste tópico é onde mora toda a riqueza de informações necessárias para que você leia todo o trabalho e compreenda o que foi feito. Ler com atenção permite que você absorva um referencial teórico importante relativo ao que foi estudado sobre o tema antes do estudo em questão. Todas as informações que serão proferidas neste primeiro tópico estarão referenciadas, para que você possa saber de um veio determinada informação. De maneira geral o último parágrafo da introdução destaca, de maneira clara e sucinta, o objetivo do trabalho.
Materiais e Métodos
Se me permite uma opinião pessoal atrevo a dizer que esta é a parte mais importante do estudo. Aqui será descrito tudo o que foi feito durante a pesquisa, e quanto mais detalhado, melhor. O delineamento da população será descrito neste tópico, e você deve se atentar ao número amostral (ex: n=25), idade, peso, altura, IMC, sexo e entre outros. Claro que de acordo com cada estudo isto irá mudar, visto que nem sempre será relevante o IMC da população para algum estudo, por exemplo.
Digo que é o mais importante pois será possível identificar os prós e contras do estudo a partir de sua metodologia, dado que as vezes um teste analisado não é dos melhores, faltaram identificação de importantes marcadores, ou que não foi utilizado algo considerado um padrão ouro.
Resultados
Nos resultados será descrito tudo que foi encontrado, sendo que estes podem estar expressos em gráficos, imagens, tabelas e quadros. Algo importante de se analisar é a unidade em que algo foi mensurado (g, kg, mg, mg/kg) e ser crítico quanto ao desvio padrão, representado por este sinal “±”. Caso você não compreenda o que é, segue um breve explicação:
Pessoa 1–20 anos; Pessoa 2–15 anos; Pessoa 3–10 anos. Média = 15 ± 5
O desvio padrão expressa o quanto os dados são uniformes, como neste caso você se dá conta que, apesar da média ser 15, os indivíduos podem ter mais 5 anos ou menos 5 anos de idade de acordo com a média. Quanto mais próximo de 0, mais homogênea a amostra é.
Muitas vezes um estudo vem acompanhado de uma análise de dados, que irá demonstrar se existe significância em um resultado, por exemplo, um estudo encontrou que determina substância fez pessoas ganharem massa muscular, mas era um número pequeno, será que este número era estatisticamente significativo? Existem diversas análises, que podemos discutir em um futuro texto, mas o Teste t de Student é muito utilizado em estudos clínicas é comum adotarem o nível de significância como p<0,05, compreende-se que todo valor abaixo disso é “provavelmente verdadeiro”.
Discussão
No tópico de discussão os resultados encontrados serão comparados com outros similares da literatura, destacando as limitações e pontos positivos de cada um deles — “Esses resultados vão de acordo com encontrado por um outro estudo” ou “Devido à metodologia adotada os resultados foram diferente” — por isso é de extrema importância ler o que é abordado nesta parte do paper.
Conclusão
A conclusão é um ponto delicado da pesquisa. Atente-se sempre que os pesquisadores não podem extrapolar seus resultados para além daquilo que foi estudo, por exemplo, se foram estudados idosos, os resultados não podem ser atribuídos à mulheres jovens. Se o estudo for in vitro (em células) não significa que terá os mesmos efeitos em ratos ou em seres humano. E lembre-se: um estudo clínico não é o topo das evidências, deve-se aguardar meta análises e consensos para afirmar os efeitos de determinada substância/intervenção.
Conflitos de interesse
Fazer um estudo clínico custa caro, por todos os insumos necessários, equipamentos, kits para análises e o tempo que requer um bom trabalho. Muitas vezes empresas privadas financiam este estudos, e é até mesmo feito pelos próprios funcionários da empresa. Quando isso acontece os pesquisadores devem descrever no fim do paper que o presente estudo apresenta conflitos de interesse. Isso não invalida os dados e tampouco quer dizer que um trabalho é ruim, mas devemos ser críticos quanto ao que foi feito pois nenhuma empresa que financia um estudo quer algo negativo relacionado ao seu produto.
Portanto, o entendimento de como se estrutura um artigo científico e os modelos de pesquisa, são fatores muito importantes para o aprimoramento do profissional e do estudante.
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