Na literatura científica há milhares de evidências bem consolidadas a respeito dos benefícios que uma alimentação rica em frutas e hortaliças pode trazer a nossa saúde, mas como isso acontece? Qual é o “poder” desses alimentos?
Além dos nutrientes essenciais (vitaminas, minerais, fibras), encontramos na composição desses alimentos elementos denominados compostos bioativos, que são moléculas químicas capazes de realizar funções biológicas no organismo humano. Tais compostos bioativos moduladores da inflamação exercem importantes funções em diversas vias de sinalização celular, como as reações envolvendo enzimas do processo inflamatório.
Mecanismo de Ação da Inflamação
De maneira aguda, a inflamação é classificada como uma resposta inicial do sistema imune frente a uma lesão celular ou tecidual, onde há migração leucocitária com a finalidade de regenerar ou cicatriz a lesão. Existe também inflamações crônicas, ocasionadas por estímulos recorrentes na regulação da via, como acontece na obesidade, por exemplo. Neste caso, o aumento do tecido adiposo gera ativação de macrófagos que liberam citocinas inflamatórias cronicamente.
A principal via de sinalização é a do fator nuclear kappa B (NF-kB). Essa via modula a expressão gênica de diversas proteínas envolvidas no processo inflamatório. O NF-kB permanece no citoplasma das células, em sua forma inativa, ligada ao seu inibidor IkB, formando o complexo NF-kB-IkB. A ativação de vias de sinalização fosforilam o inibidor IkB, desfazendo o complexo e permitindo que NF-kB seja translocado até o núcleo celular. Uma vez no núcleo, ele modula a expressão de genes codificadores de citocinas pró-inflamatórias.
O sistema imune, por sua vez, libera substâncias como IL-1, IL-6, TNF-a, quimiocinas e espécies reativas de oxigênio (EROs). Essas moléculas podem ativar outras vias de sinalização e exacerbar a inflamação inicial. Tendo em vista que inflamações recorrentes aumentam as chances de um indivíduo desenvolver doenças crônicas não transmissíveis. Ademais, o estudo molecular dos compostos bioativos na modulação da inflamação é de extrema relevância na nutrição.
Compostos Bioativos Modulando a Resposta Inflamatória
Veja alguns exemplos de compostos bioativos e como eles atenuam a inflamação:
Resveratrol: Esse composto é encontrado em forma de trans-resveratrol (forma mais estável), em uvas e também no vinho tinto. Em estudos in vitro, o resveratrol mostrou-se eficiente no combate a inflamação por inibir a expressão de citocinas pró-inflamatórias, suprimir a ativação de NF-kB e também por inibir a transcrição gênica da COX-2, enzima presente na cascata do processo inflamatório.
Curcumina: Obtida através da cúrcuma longa, este pigmento é capaz de modular a expressão gênica de proteínas induzidas pelo NF-kB, tais como: COX-2, TNF-a, IL-1, IL-6, entre outras. De maneira geral, a curcumina inibe algumas vias que estimulam a produção de EROs, ou seja, seu efeito anti-inflamatório está atrelado a baixas concentrações de EROs na célula.
Quercetina e Licopeno: Boas fontes alimentares de quercetina são: cebola, maçã e rúcula. Já o licopeno está presente no tomate, goiaba, melancia. Esses compostos combatem a inflamação de duas maneiras: Pela inibição da translocação de NF-kB do citoplasma até o núcleo celular e também por inibir a expressão gênica de COX-2, bem como os compostos citados anteriormente.
O benefício do consumo de alimentos fonte de compostos bioativos está em sua variedade, considerando que não existe somente um mecanismo para inibir a inflamação, e sim uma combinação de diferentes ações no metabolismo. O consumo deve ser contínuo, preferencialmente diário e na quantia de 3-5 porções/dia, assim como orientado no guia alimentar para a população brasileira. Dessa forma, a probabilidade de obter as vantagens dessas propriedades alimentares será maior.
Sugestões de Leituras Complementares: Blog BF: Quais as diferenças entre os tipos de inflamação? DOI: https://doi.org/10.3390/nu12020400 DOI: https://doi.org/10.1590/S0004-27302009000500017
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